“E assim os leitores aprendem com a experiência de outros leitores, reciclada pelos especialistas, que é possível buscar ‘relacionamentos de bolso’ do tipo de que se ‘pode dispor quando necessário’ e depois tornar a guardar. (…)No todo, o que aprendem é que o compromisso, e em particular o compromisso a longo prazo, é a maior armadilha a ser evitada no esforço por ‘relacionar-se’. (…)E assim, se você deseja ‘relacionar-se’, mantenha distância; se quer usufruir do convívio, não assuma nem exija compromissos. Deixe todas as portas sempre abertas.”Zygmunt Bauman – Amor Líquido
O Bauman me foi apresentado por conta de um fichamento qualquer, de uma matéria qualquer no curso de Ciências Sociais. A ideia era questionar a problemática da individualização nas relações pós-modernas.
Quanto mais eu avançava no livro mais possessa eu ficava com o autor, com o tema. Não, não me recordo de estar de TPM, eu estava bem e sem nenhuma questão pessoal me incomodando. O assunto me irritava por parecer irreal, propositalmente sensacionalista.
Na aula, entreguei um fichamento meia boca e a turma iniciou uma discussão inflamada, densa, recheada de relatos pessoais bem detalhados sobre seus “relacionamentos de bolso”, como esse tipo de relacionamento era providencial, prazeroso, moderno. Eu fiz cara de nenhum amigo e apenas observei a discussão me sentindo uma pessoa bem atrasada.
Passei o começo daquela tarde irritada, distante, inquieta e o assunto maldito não saía da mente. Quanto mais eu pensava nessa tal “liquidez” mais carrancuda eu ficava. Aí a ficha caiu. O ponto não era se de fato “relacionamentos de bolso”, “relações líquidas baseadas no consumismo” estavam ou não acontecendo e sim, porque o assunto estava me incomodando. Avaliando o meu desconforto percebi que eu estava reproduzindo esse modelo de duas formas:
De maneira direta, eu estava desistindo muito fácil de novos amigos. Sempre que surgia algum conflito eu simplesmente abria mão e seguia pra uma outra amizade, como se o amigo fosse um celular superado por outro modelo com mais recursos. Eu estava tratando esses amigos como “amigos de bolso” prontos pra serem usados quando EU precisasse e depois guardados ou simplesmente esquecidos. Ou, como diria o Sr. Tyler Durden, amigos “porções únicas”.
De maneira indireta, os meus relacionamentos estavam sendo totalmente de bolso. Não porque eu estivesse “descartando” os caras na primeiro Discussão de Relacionamento, eu é que estava sendo descartada. Percebi que estava se tornando habitual ouvir frases como “você é boa demais pra mim”, “não é você, sou eu” ou “não estou pronto pra um relacionamento sério”. O engraçado é que nenhum deles perguntou o que eu queria, eles apenas terminavam e seguiam em frente.
Ah, e seguiram em frente sem “fechar a porta” comigo. Não perderam o contato, nem o interesse nas minhas atividades, ligavam quase diariamente, se convidavam descaradamente para os programas de final de semana ou pro tradicional cinema de segunda a tarde. E não era raro que o filme se prorrogasse num jantar e depois num convite para passar a noite.
Confesso que foi bem difícil de aceitar que meus relacionamentos estivessem seguindo esse modelo de “relacionamento de bolso”. Como surgiu essa brecha, resolvi explorá-los. Procurei os últimos três rolos e perguntei porque eles tinham me dado o pé na bunda.
Nenhum deles adimitiu ter me dado o fora. Nenhum. O argumento dos três era o mesmo: eles precisavam aproveitar a solteirice, precisavam conhecer pessoas, não estavam prontos pra seguir um relacionamento sério, estavam em momentos diferentes dos meus.
Quando contei a respeito dos “relacionamentos de bolso” eles ficaram extremamente ofendidos. “Jamais”, nunca usariam uma pessoa, a colocariam na geladeira e, quando tivessem saudade, estivessem solitários numa sexta a noite a procurariam.
“Mas não é isso que você está fazendo comigo?”
Era uma vez uma porta…
Por conta de TCC, estágio, mudanças profissionais e uma infinidade de coisas que costumam acontecer todas ao mesmo tempo, o tema ficou congelado. Quando a vida retomou o equilíbrio habitual, vi que existia um universo infinito a ser explorado, e não apenas para entender a lógica desses relacionamentos de bolso, mas pra entender como minha geração encara sua sexualidade.
Durante a pesquisa ficou evidente que só a minha experiência não bastava para entender esse universo, então, criei alguns perfis fakes para participar de fóruns/comunidades feministas e masculinistas justamente pra coletar mais experiências e traçar uma ponte entre a teoria e o que de fato acontece.
Cá estou, porque cheguei num impasse: todas as entrevistas masculinas coletadas são de extremos, ou são de fulanos que encaram as mulheres apenas como objetos ou de homens que ainda esperam a princesa. Eu preciso de opiniões meio termo.
Acompanho o trabalho do PapodeHomem há mais ou menos um ano e meio. Fiz uma busca no portal por textos falando especificamente sobre casamento, só que encontrei apenas textos escritos por mulheres. Resolvi procurar o Guilherme pedindo ajuda perguntando se existia algum texto escrito por algum ogro falando sobre casamento. Não sei se existe, porque ele (como bom ogro que é) -e mandou pescar!
Então, lá vai:
Os homens ainda querem se casar? Acreditam no casamento? Por quê?
Gostaria saber a opinião dos leitores do PdH e preciso que sejam bem honestos, sinceros, detalhistas. É exatamente essa abertura que vai dar um resultado bom nos comentários abaixo.
Contraponto do editor
Antes de responderem a pergunta – para o bem ou para o mal – vale mostrar umas fotos que pipocaram por toda internet nas últimas semanas, com a reação espontânea de homens ao verem suas futuras esposas ao pé do altar, logo antes de seu casamento.
Muitos homens querem chegar lá, mas não sabem como?
Matéria originalmente publicada no website PaPO de HoMEM http://papodehomem.com.br/
“Ninguém nasceu para ficar sozinho”
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